4 de dezembro de 2006

Antes de mais nada

Antes de mais nada, vamos deixar claro: este não é um blogue de "dicas de português para concursos", ou coisa similar. Também não é a coluna do Pasquale ou da Dad, para ficar apitando falta enquanto o pessoal vai falando. A norma-padrão é um modelo, uma referência, e não o jeito certo de falar. A Gramática serve para entender a língua, e não para ninguém entender nada, como acontece frequentemente nas escolas e cursinhos. A língua é para usar e abusar. E os usos ditam as regras. Uma língua não perde suas características estruturais quando alguém diz "pra mim fazer". Vale a pena, na verdade, investigar o que leva tantos falantes a usarem essa estrutura, e por que ela deve ser corrigida em contextos de maior formalidade. Recomendo, sobre esse assunto, conhecer a Gramática de usos, citada aí do lado.
A expressão que intitula esta postagem, por exemplo, é considerada errada pelos paragramatiqueiros de plantão. Não é errada. O português tem diversos casos de dupla negação, principalmente com pronomes como "nada", "nunca" e "ninguém". Quando eu digo "Não vi ninguém", não disse que vi alguém, certo? Então, "antes de mais nada" não traz dúvida alguma quanto ao seu sentido. Aliás, várias outras línguas usam dois elementos de negação, como o pas do francês (que é só uma das possíveis expressões negativas que se casam com o ne).

Quer saber de uma expressão que, esta sim, diz o contrário do que aparenta? "Correr atrás do prejuízo". Ouço e fico imaginando o mané lá, correndo até alcançar o prejuízo. Aonde?! Eu corro atrás de lucro ou, no mínimo, fujo do prejuízo. Mas cada um corre atrás do que quer, então deixa estar.

É claro que, apesar de não estar aqui para bancar a polícia da língua, vamos sacanear impiedosamente textos mal-escritos e mal falados que surgirem por aí. Por exemplo, tem um cartaz do PT, contra a ALCA, fixado no gabinete de um deputado aqui de Brasília, o qual diz o seguinte: "NENHUM ACORDO É MELHOR DO QUE UM ACORDO RUIM". Mandou mal, meu querido, você disse o contrário do que queria. Quem aí sugere uma correção interessante?

4 comentários:

Anônimo disse...

Corrija-me em caso de erro. Mas acho que cabem ( ou cabe, se encontrar uma correta,rs):

1- É melhor nenhum acordo do que um acordo ruim.

2- A um acordo ruim, melhor é acordo nenhum.

3- Melhor do que um acordo ruim é nenhum acordo.

4- Melhor nenhum acordo, a um acordo ruim.

5- Melhor nenhum acordo do que um acordo ruim.

6- Um acordo ruim é pior do que acordo nenhum.

Tudo em absoluta contradição ( ou seja, "vão de encontro" e não "ao encontro") com a que ouço desde os tempos de vovô: "Melhor um mau acordo que uma boa demanda".

Luis disse...

Caro anônimo:

ótimas as suas sugestões. Gosto mais da primeira, porque altera pouco o texto original e é bem direta.

Valeu pela contribuição, volte sempre!

Abraço

Ingridi disse...

Gostaria de ver a sua sugestão, caro Luis, e saber o que há de errado na frase para você.

Obrigada.

Luis disse...

Olá, Ingrid,

o erro é que a frase diz o contrário do que se pretendia dizer. Minha sugestão é a primeira alternativa do comentário anônimo aí em cima.

Abraço!